sábado, 1 de março de 2014

Os Ferreira de Camargo e a Revolução de 32

Os grandes eventos da história estão sempre relacionados a indivíduos ilustres que ousaram 'escrever' os rumos de seu tempo. Abdicaram aos caprichos e aos individualismos inerentes à covardia humana; Ofertaram de seus talentos e recursos em prol de uma causa maior.
Em Amparo, no tocante à Epopeia de 32, cumpre asseveramos a inesquecível (porém olvidada) participação da Família Ferreira de Camargo nos bastidores da grande Revolução Brasileira.
De início, citamos a figura do Coronel João Belarmino Ferreira de Camargo, poderoso cafeicultor e influente líder político do PRP (Partido Republicano Paulista) em Amparo, agremiação política dominante non período da dita 'República Velha'. Seu nome se liga ao contexto da hegemônica influência dos ditames paulistas (e mineiros aliados do PRM) nos rumos da política nacional. Sob o véu da indicação política de nomes influentes (revezando essa escolha com os vizinhos mineiros, daí do 'café-com-leite'), mantinham a esfera política nacional sob o jugo das determinações paulistas. Não se pretende, nessas linhas, realizar análise crítica sobre os aspectos democráticos ou oligárquicos desse período; Tenciona-se, em verdade, explanar que o Coronel João Belarmino Ferreira de Camargo fazia parte desse grupo político, alvo do Golpe de Estado promovido por Getúlio Vargas em 1930.
Ademais, no intervalo 1930-32, o Coronel J.B.F de Camargo mostrou-se ativo no pólo oposto daquele governo ditatorial que se instalara em 1930.


Outro membro de grande destaque foi o Doutor Laudo Ferreira de Camargo, filho do Coronel João Belarmino. Tecer considerações sobre esse ilustre jurista, sem modéstia, nos exigiria a feitura de um livro, todavia, aqui exporemos pontos principais de sua trajetória relacionado ao evento de 32.
Homem do Direito, bacharelou-se em 1902 na tradicional Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, o verdadeiro 'Templo' jurídico do Brasil até os dias de hoje. Advogou em Amparo nos primeiros anos de formado e, posteriormente, seguiu a carreira jurídica nos quadros estatais, ocupando o cargo de Promotor Público em Serra Negra e de Juiz de Direito nas cidades de São José do Rio Pardo, Itaporanga, Cajuru, São Simão, Ribeirão Preto e Santos. Após brilhante e reconhecida carreira de Juiz, foi promovido ao cargo de Desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo, órgão máximo da magistratura paulista.
Como Desembargador ganhou notoriedade pelas constantes aposentadorias compulsórias de Juízes de Direito ligados aos PRP e, portanto, às consequentes conivências com determinadas fraudes eleitorais e a 'vitórias' políticas 'sob pico de pena', as quais eram convalidadas pelo judiciário. Tal postura de Laudo de Camargo, em tese, contrariava os interesses políticos de sua família, porém, a grande característica desse homem era a imparcialidade, atributo inerente ao exercício de julgar. 
Justamente pelo seu espírito imparcial fora nomeado pelo próprio Getúlio Vargas ao cargo de Interventor federal no governo de São Paulo ( de 26 de julho a 13 de novembro de 1931). Esse cargo, equivalente ao de Governador de Estado nos mostra o patamar de sua importância política em seu tempo. Sua escolha relaciona-se a estratégia de Getúlio Vargas de escolher um paulista que pudesse conter os ânimos no Estado e servir de intermediário ao bom governo, ainda que ditatorial.
Conforme extraímos da grandiosa obra 'REVOLUÇÃO DE 32' de HERNÂNI DONATO, Laudo de Camargo tentou realizar um governo ponderado e de sua confiança ( e dos paulistas, por extensão), todavia, teve no entrave dos 'Tenentes' a impossibilidade de governar livremente:
 
    Camargo, havendo exigido alguma liberdade de ação, escolhe secretariado de sua confiança e move-se com tal personalidade e desembaraço ante os arreganhos tenentistas que depressa se transforma em alvo daquela corrente. E ultrapassa os limites considerados toleráveis pelos outubristas, legionários e tenentes ao indultar os militares da Força Pública implicados no movimento armado de abril. Essa medida soou para os tenentes como desafio a responder e impressionou e encurralou Getúlio.
   João Alberto, que do Rio de Janeiro ainda movia cordões em São Paulo, expediu ao seu sucessor  um bilhete desaforado; Góis Monteiro, telegrama idem. Ambos identificavam na atuação laudista o preparo do desforço paulista. Não lhe darão tréguas nem baixarão a guarda revolucionária tenentista. Laudo de Camargo providencia o mínimo, na oportunidade: quer saber se Vargas teve conhecimento das mensagens, isto é, se prestigia o interventor ou os tenentes. É o 13 de novembro. Por três vezes, Getúlio esquiva-se de atender a chamada telefônica. Laudo entende. E renuncia. (H.Donato, Revolução de 32, p.48)

A despeito do evidente antagonismo travado entre Laudo de Camargo e Getúlio Vargas, este o nomearia posteriormente ( Decreto de 30 de maio de 1932) ao cargo de Ministro do Supremo Tribunal Federal, do qual seria seu Presidente no biênio 1949-51.

Laudo Ferreira de Camargo


Outro membro da família Ferreira de Camargo fielmente atrelado a Epopeia de 32 é Alonso Ferreira de Camargo, outro filho co Coronel João Belarmino e irmão de Laudo. Foi um dos amparenses heroicamente mortos na Revolução. De Cruzes Paulistas extraímos algumas considerações a seu respeito:

         Com idade bastante para prestar seus serviços em trabalhos menos pesados da retaguarda. Alonso Ferreira de Camargo preferiu, no entanto, as agruras da trincheira. Alistou-se no batalhão “14 de Julho”, em cujo encalço embarcou para Itararé. Com ele, tomou parte em vários renhidos combates, até 23 de agosto, quando colhido por estilhaços de granada, em Buri, ficou gravemente ferido. Trazido para a Capital e internado no Instituto Paulista, ali faleceu a 30 do mesmo mês. Seu corpo foi transladado para Amparo, onde nascera.
Alonso era filho do Sr. João Bellarmino Ferreira e da Sra. Francisca Viegas Ferreira de Camargo, nascera em Amparo, aos 27 de setembro de 1887. Contava, pois, 45 anos ao incorporar-se. Casado com a Sra. Maria Fausta Nogueira de Camargo, deixou duas filhas: Celina e Inah. Era irmão dos Srs. Dr. Lauro Ferreira de Camargo, desembargador na Côrte Suprema e ex-interventor federal de São Paulo, casado com a Sra. Noêmia de Almeida Camargo; Sr. Clóvis Ferreira de Camargo; e Sras. Lecticia, casada com o Sr. Benedito Lino de Campos e Ottilia, casada com o Sr. Paulo Nogueira.
Alonso Ferreira de Camargo ocupava cargo de alto relevo na Secretaria da Agricultura, tendo sido escolhido, por varias vezes, para importantes comissões. Viajado, conhecia a Inglaterra, a França, a Suíça e a Alemanha, falando corretamente, além do português, o francês e o alemão.   

Alonso Ferreira de Camargo

Por fim, não podemos deixar de prestar homenagens ao ilustre Doutor Áureo de Almeida Camargo, filho de Laudo de Camargo. Amparense e acadêmico da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, juntou-se ao Batalhão 14 de Julho, emanado dessa Academia de Direito e lutou bravamente nas trincheiras paulistas. Foi, posteriormente, renomado historiador brasileiro, sempre buscando eternizar os feitos do povo paulista em seus escritos e artigos. Foi autor da obra 'Epopeia de 32'.

Áureo de Almeida Camargo

7 comentários:

  1. senhores, tento tanto um contato convosco, mas até então foram influtíferos....sou filho de um amparense que se se incorporou ao Batalhão 23 de Maio....meu avô foi nomeado pelo governo revolucionário num cargo como "prefeito" de Amparo durante a Revolução....sou fascinado pela história de 32...tenho contatos com o núcleo de Itapira e já publiquei no blog do senhor Ricardo Della Rose.....sou: mauricunha@yahoo.com.br....grato pela atenção.

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  2. Meu pai participou , gostaria de saber de pessoas que participaram em Cajuru ,Cassia dos Coqueiros,entre outras cidades.

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  3. Meu pai participou , gostaria de saber de pessoas que participaram em Cajuru ,Cassia dos Coqueiros,entre outras cidades.

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    1. Prezada Lydia.
      Primeiramente, obrigadO por acessar nosso blog.
      Não temos informações sobre os combatentes dessas cidades acima indicadas, apenas dados sobre Amparo e região. Sugiro que a srª entre em contato na página da Sociedade Veteranos de 32 no Facebook, já que por lá eles poderão lhe indicar algum pesquisador da região de Cajuru. Obrigado. MMDC AMPARO

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  4. Sou bisneto do Dr Laudo e tenho muito orgulho de toda a história relacionada a família

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  5. Olá Juliano, estava lendo sobre o Coronel João Belarmino e me deparei com este BLOG vendo que és bisneto do Dr Laudo. Como também sou. Como não havia escutado de seu nome, poderias se identificar ? Sou José Laudo de Camargo e vivo nos EUA. Quando leias esta nota, poderias me chamar ? +18594920996. Obrigado e seguimos

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